“’Este é um imperativo moral. Quando investimos em resiliência climática e infraestrutura, criamos oportunidades para todos”, disse Joe Biden – presidente dos EUA, durante a cúpula virtual de líderes sobre a mudança climática convocada e realizada pela sua administração nos dias 22 e 23 de abril, que contou com a participação de 40 países.
Na sessão de abertura da cúpula, os líderes anunciaram os esforços atuais e as novas ações de seus países para combater o aquecimento global.
A mesma destacou quatro temas principais durante a reunião: aumento das propostas dos países com relação à redução das emissões de CO2, investimento em soluções climáticas, inovações na área e oportunidades econômicas decorrentes da ação climática.
Conheça os principais pontos discutidos na cúpula e como foi a participação do Brasil no evento.
Os novos compromissos
A cúpula de dois dias faz parte da estratégia política de Biden para restaurar a hegemonia dos EUA no âmbito internacional. Visto que seu antecessor, Donald Trump, retirou o país do Acordo de Paris – Tratado Internacional sobre as e Mudanças do Clima, legalmente vinculado em 2017 -, Biden reverteu essa decisão logo após assumir o cargo.
O novo compromisso de Biden com os Estados Unidos, anunciado durante a cúpula, é de reduzir as emissões de combustíveis fósseis em 52% até 2030. Ele apresentou propostas que divergem do posicionamento de Donald Trump, que há anos vinha zombando da ciência que estuda a mudança climática – assim retirando os EUA do marco do acordo climático de 2015 em Paris.
Metas apresentadas pelo Brasil
Com relação ao Brasil, a pressão sobre a redução do desmatamento da Amazônia fez com que o presidente Jair Bolsonaro adotasse a tática de contra-ataque ao cobrar dos países ricos apoio financeiro para a preservação ambiental no Estado.
Bolsonaro reiterou as metas do NDC do Brasil: reduzir as emissões em 37% até 2025, e em 43% até 2030. O líder brasileiro também afirmou que o país alcançaria a neutralidade de carbono até 2050 (dez anos antes do prazo anterior) e se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal até 2030, com a aplicação total e imediata do código florestal já existente.
Para atingir esses objetivos, ele argumentou que seriam necessárias contribuições de empresas e a colaboração da comunidade internacional – um “pagamento justo” pelos serviços ambientais prestados ao resto do mundo pelos biomas brasileiros.
De acordo com o projeto, países, estados ou províncias com florestas tropicais receberiam dinheiro depois de provar que reduziram o desmatamento ou a degradação florestal.
Um dia após a promessa, Jair Bolsonaro aprovou um corte de 24% no orçamento ambiental para 2021 em relação ao nível do ano passado – de acordo com números oficiais publicados – um dia após ter prometido aumentar os gastos para combater o desmatamento.
Promessas ousadas e a falta de políticas para implementação
Como os EUA prometeram reduzir suas emissões pela metade até 2030, os defensores notaram a falta de políticas para atingir esse objetivo e a probabilidade de intensa resistência política republicana.
A China prometeu na cúpula eliminar as usinas a carvão, mas 247 gigawatts de energia a carvão estão atualmente em fase de planejamento ou desenvolvimento.
O Reino Unido, a UE, o Japão e a Coreia do Sul se comprometeram a fazer mais, mas todos estão envolvidos com a queima de biomassa florestal para substituir o carvão – uma solução baseada em um erro de longa data na contabilidade do carbono que considera a biomassa florestal como neutra neste elemento embora os cientistas digam que ela produz mais emissões do que carvão por unidade de eletricidade produzida.
Líderes de Israel, Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, Noruega, Polônia, Espanha, Nigéria e Vietnã também participaram, juntamente com representantes dos departamentos de transporte, energia e comércio dos EUA.
A meta dos EUA é relativa aos níveis de 2005 e a Casa Branca diz que os esforços para alcançá-la incluem a mudança para a eletricidade livre de poluição de carbono, o aumento da eficiência do combustível de carros e caminhões, o apoio à captura de carbono em instalações industriais e a redução do uso de metano.
Os aliados dos EUA também prometeram cortar as emissões, com o objetivo de convencer outros países a fazerem o mesmo antes da cúpula da ONU sobre mudança climática em novembro em Glasgow, onde os governos determinarão a extensão das reduções de cada país nas emissões de combustíveis fósseis.
O Japão anunciou novos planos para reduzir as emissões em 46%, enquanto a Coreia do Sul disse que interromperia o investimento de financiamento público de novas usinas movidas a carvão. O primeiro-ministro Justin Trudeau disse que o Canadá aumentaria seus cortes na poluição por combustíveis fósseis em cerca de 10% a pelo menos 40%.
Os líderes da Rússia e da China colocaram de lado suas disputas com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para promover cooperação internacional na redução das emissões de carvão e petróleo que destroem o clima.
A cúpula pode ser um ponto crítico na luta contra a mudança climática, mas com metas anteriores ambiciosas que fracassaram. Os compromissos de agora devem ser seguidos com uma implementação eficaz, relatórios transparentes e contabilidade de carbono precisa.
Os ambientalistas – cansados de lacunas nas políticas, lapsos de conservação e o fracasso total dos governos em cumprir as metas de redução de carbono do Acordo do Clima de Paris – pediram ruidosamente que a lacuna seja fechada entre as promessas e a ação climática real.
Ações com apoio da iniciativa privada
Uma nova coalizão, lançada no dia do evento, visa canalizar pelo menos US$1 bilhão em pagamentos a países que mostram que estão evitando o desmatamento tropical e suas emissões associadas.
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Os EUA, Grã-Bretanha e Noruega, estão conduzindo o esforço junto com uma série de grandes corporações, incluindo Amazon, Nestlé, Unilever e Salesforce, formando o que o grupo chamou de “um dos maiores esforços público-privados já feitos para ajudar a proteger as florestas tropicais”.
“Reunir recursos do governo e do setor privado é um passo necessário para apoiar os esforços em grande escala que devem ser mobilizados para travar o desmatamento e começar a restaurar as florestas tropicais e subtropicais”, disse John Kerry, enviado especial do governo americano sobre o clima.
Há ceticismo em relação ao compromisso anunciado na quinta-feira por Biden e certamente haverá uma batalha política partidária sobre sua promessa de reduzir o uso de combustíveis fósseis em todos os setores da economia dos Estados Unidos.
Modernização da infraestrutura dos EUA para energia limpa
A Casa Branca providenciou que bilionários, CEOs e executivos sindicais ajudassem a promover o plano de Biden para reduzir a dependência da economia dos EUA em combustíveis fósseis, investindo trilhões de dólares em tecnologia de energia limpa, pesquisa e infraestrutura, ao mesmo tempo salvando o planeta.
O bilionário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg destacou: “Não podemos vencer a mudança climática sem uma quantidade histórica de novos investimentos”, acrescentando ainda: “Temos que fazer mais e mais rápido para reduzir as emissões”.
John Kerry, enfatizou o apelo de Biden para modernizar a infraestrutura dos EUA a fim de operar de forma mais limpa, mantendo-a como fonte de benefícios de longo prazo para a economia dos EUA. “Não se pede a ninguém um sacrifício”, disse Kerry. “Esta é uma oportunidade”.
Para finalizar, Biden enfatizou: “O mundo inteiro enfrenta um momento de perigo, mas também um momento de oportunidade. Os sinais são inconfundíveis e a ciência é inegável. O custo da inação continua aumentando ”, finalizou.
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