Ciclone bomba: conheça suas principais características

Imagem de ciclone ao fundo com transparência azul sobreposta, quadro azul sobreposto ao centro e texto "ciclone bomba", além de mapa da região sul do Brasil à direita do texto, sobreposto por ícone de ciclone com transparência branca.

Após a passagem do Ciclone Extratropical pela região sul do Brasil, e a sua possível incidência no dia 07 de julho, decidimos conversar com a Doutora em Sensoriamento Remoto e Meteorologista Débora de Souza Simões.

Ela nos auxiliou a compreender como houve o surgimento do “Ciclone Bomba”, quais são as suas principais características e quais as condições climáticas que propiciaram a sua formação na Região Sul do país.

Conheça os aspectos da formação do Ciclone na Região Sul

Qual a origem do ciclone que atingiu os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina? 

“Os ciclones extratropicais se formam como ondas atmosféricas ao longo de frentes, ou então a partir de um cavado (depressão atmosférica) pré-existente a sotavento (lado por onde desce o vento) de montanhas antes de se ocluir (“fechar”) mais tarde como ciclones de núcleo frio.

A partir da década de 1980, pesquisas identificaram uma categoria de ciclones de média latitude (ciclone extratropical), que se forma e se intensificam rapidamente, adquirindo características que lembram os furacões tropicais.

A ciclogênese explosiva é favorecida por instabilidades na atmosfera inferior, e costuma se localizar a jusante de um cavado na média atmosfera. As “bombas” se caracterizam por um forte movimento vertical, associado a um nível nitidamente definido de não divergência na média atmosfera, e uma liberação de calor latente em grande escala.

Na América do Sul, os ciclones explosivos não ocorrem em latitudes menores que 27°S.” – completa a Dra.

Atualmente estão chamando o Ciclone Extratropical de “Ciclone Bomba”? De onde surgiu esse termo? 

“Os ciclones explosivos foram apelidados de “bombas”, apenas “bomba” e não “ciclone bomba”, por causa de sua acelerada taxa de aprofundamento: são observadas quedas de pressão de, no mínimo, 1mb (1 milibar – unidade de pressão) a cada hora considerando-se um período de 24 horas, ou seja, pelo menos 24mb/24h.

Além disso, o Ciclone bomba não é um nome científico, é uma adaptação brasileira para o apelido “bomba” dado aos ciclones explosivos. O nome científico é Ciclone Explosivo.” – afirma Débora.

Quais são as condições climáticas para ele se formar? 

“A sobreposição de uma região de divergência superior sobre uma zona frontal é a principal força motriz da ciclogênese, ou seja, é o que dá início ao ciclone.

A instabilidade baroclínica (quando a temperatura varia sobre superfícies de mesma pressão atmosférica, e vice-versa – a pressão varia sobre superfícies de mesma temperatura) é citada frequentemente como sendo um dos principais mecanismos para o desenvolvimento da maioria dos ciclones explosivos.

Os Ciclones Explosivos (CEx) produzem grandes quantidades de precipitação, gerando ventos fortes, ondas altas e pouca visibilidade. A pressão central em ciclones explosivos é cerca de 15,5mb menor do que em um ciclone extratropical e seus ventos são em média 60% mais intensos.

Os Ciclones Explosivos estão entre os eventos mais severos que afetam regiões costeiras (com alta densidade demográfica) e também oceanos abertos’, disse.

Por que ele ocorreu na Região Sul? 

“Essa é uma região de ciclogênese, ou seja, é uma região que apresenta características físicas (relevo) e circulação atmosférica e oceânica favoráveis para a formação de ciclones extratropicais, e também ciclones explosivos.

A frequência da ciclogênese extratropical é maior no inverno, com frequência máxima no mês de maio e mínima no mês de dezembro.

Pesquisadores identificaram essa área como sendo a de maior frequência de sistemas explosivos de todo o Hemisfério Sul, ocorrendo em média 26 CEx por ano, sendo a maior frequência no trimestre de junho, julho e agosto.”

Qual a probabilidade de ele ocorrer novamente? 

“Sim, podem ocorrer outros. Os ciclones explosivos são raros em comparação com os ciclones de desenvolvimento não explosivo.

Em torno de 2% a 4% dos ciclones extratropicais foram identificados como explosivos. Sendo que cerca de 41% deles ocorrem nos meses de junho, julho e agosto.”

Já houve relatos de outros ciclones como esse na Região Sul? 

“Sim, já ocorreram. Uma pesquisa desenvolvida por Bitencourt et al. (2013) analisaram a ocorrência de ciclones extratropicais na América do Sul e identificaram até 144 ciclones explosivos entre os anos de 1957 e 2010, chegando aos percentuais citados anteriormente.”

A análise por imagens de satélite ou sensoriamento remoto poderia ter auxiliado a população a se prevenir antecipadamente?

“Sem dúvida, imagens de satélite e de radar auxiliam no monitoramento de eventos meteorológicos. Porém a rapidez de desenvolvimento de ciclone explosivo, o limitado conhecimento deste fenômeno e a escassez de dados meteorológicos tanto em áreas continentais quanto oceânicas, dificultam a previsão do mesmo.

Entretanto, é fundamental destacar que foi previsto a formação de um ciclone extratropical intenso. Diversos alertas foram emitidos antecipadamente por diferentes órgãos e instituições.

Porém, o Brasil não está preparado para reagir adequadamente em situações como esta. Mesmo com os alertas nenhuma providência foi tomada para evacuar áreas de risco, solicitação para as pessoas se abrigarem e protegerem seus patrimônios, as atividades estavam todas funcionando normalmente.

Provavelmente a tragédia não foi maior porque estamos em tempos de pandemia e vários setores, como escolas, estão suspensas.”

O que você achou? Sabia dessas informações sobre o Ciclone? Nos conta mais ali nos comentários.

Entrevista com: 

Dra. Débora de Souza Simões

Meteorologista e Engenheira Hídrica (ambas pela UFPEL), mestre e doutora em Sensoriamento Remoto (ambas pela UFRGS).

Referências:

BARRY, R.G.; CHORLEY, R. J. Atmosfera, tempo e clima. 9 ed. – Porto Alegre: Bookman, 2013.

AVILA; V. D., NUNES; A. B., ALVES, R. C. M. Análise de um caso de ciclogênese explosiva ocorrido em 03/01/2014 no sul do Oceano Atlântico. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 09, n. 04 2016, p. 1088-1099.

BITENCOURT, D. P.; FUENTES, M. V.; CARDOSO, C. de C. Climatologia de ciclones explosivos para a área ciclogenética da América do Sul. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 28, n. 1, 2013, p. 43 – 56.

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