Economia circular: como é seu funcionamento

A população mundial está crescendo, e com ela, a demanda por matérias-primas. No entanto, o fornecimento desses suprimentos é limitado e finito, o que significa que alguns países dependem uns dos outros. 

Além disso, a extração e o uso desses recursos têm um grande impacto no meio ambiente. No entanto, um uso mais inteligente de matérias-primas pode reduzir essas emissões.

No Brasil, em 2018, foram geradas 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. A União Europeia produz mais de 2,5 bilhões de toneladas de resíduos todos os anos. E atualmente, está atualizando sua legislação sobre gestão de resíduos para promover uma mudança para um modelo mais sustentável conhecido como economia circular.

Vamos saber o que é economia circular, como funciona e conhecer alguns exemplos?

Mas o que significa economia circular? Quais os benefícios?

A economia circular é um modelo de produção e consumo que envolve a partilha, arrendamento, reaproveitamento, reparação, recondicionamento e reciclagem de materiais, assim como produtos existentes durante o máximo de tempo possível. Dessa forma, o ciclo de vida dos produtos é estendido.

Na prática, isso implica reduzir o desperdício ao mínimo. Quando um produto chega ao fim de sua vida útil, seus materiais são mantidos na economia sempre que possível. Eles podem ser usados ​​de forma produtiva repetidas vezes, criando assim mais valor.

Isso é um afastamento do modelo econômico linear tradicional, que se baseia em um padrão pegar-fazer-consumir-jogar fora. Esse modelo depende de grande quantidade de materiais e energia baratas e de fácil acesso.

Também faz parte desse modelo a obsolescência planejada, quando um produto foi projetado para ter uma vida útil limitada para incentivar os consumidores a comprá-lo novamente. O Parlamento Europeu apelou a medidas para combater essa prática.

Em fevereiro de 2021, o Parlamento aprovou uma resolução sobre o novo plano de ação da economia circular exigindo medidas adicionais para alcançar uma economia neutra em carbono, ambientalmente sustentável, livre de tóxicos e totalmente circular até 2050, incluindo regras de reciclagem mais rígidas e metas vinculativas para o uso de materiais e consumo em 2030.

Origens do conceito de economia circular

A noção de circularidade tem profundas origens históricas e filosóficas. A ideia de feedback, de ciclos em sistemas do mundo real, é antiga e tem eco em várias escolas de filosofia. Ela teve um renascimento nos países industrializados após a Segunda Guerra Mundial, quando o advento dos estudos baseados em sistemas de computadores não lineares revelaram inequivocamente a natureza complexa, inter-relacionada e, portanto, imprevisível do mundo em que vivemos – mais semelhante a um metabolismo do que a uma máquina.

Escolas de pensamento da economia circular

O modelo de economia circular sintetiza várias escolas importantes de pensamento. Eles incluem a economia de serviço funcional (economia de desempenho) de Walter Stahel; a filosofia de design Cradle to Cradle de William McDonough e Michael Braungart; biomimética articulada por Janine Benyus; a ecologia industrial de Reid Lifset e Thomas Graedel; capitalismo natural por Amory e Hunter Lovins e Paul Hawken; e a abordagem dos sistemas de economia azul descrita por Gunter Pauli.

Como os materiais são conduzidos em uma economia circular?

Na economia circular, os materiais são conduzidos em dois ciclos separados: o biociclo e o tecnociclo. A distinção entre esses ciclos ajuda a entender como os materiais podem ser usados ​​de forma duradoura e com alta qualidade. 

Uma regra geral é: se um material tiver que passar por menos etapas de processamento para a reutilização, maior será a qualidade do material restante.

Em uma economia circular, os ciclos de materiais são fechados seguindo o exemplo de um ecossistema. Não existe desperdício, porque cada fluxo residual (curso do que sobra do material depois de utilizado) pode ser usado para fazer um novo produto. 

As substâncias tóxicas são eliminadas e os fluxos residuais são separados em um ciclo biológico e um ciclo técnico. Os produtores retiram seus produtos após o uso e os preparam para uma nova vida útil. 

Nesse sistema, é importante não apenas que os materiais sejam reciclados de maneira adequada, mas também que os produtos, componentes e matérias-primas permaneçam de alta qualidade nesses ciclos.

Quem está utilizando a economia circular?

A Indústria 4.0 tem oferecido muitas oportunidades para o desenvolvimento da economia circular na qual os produtos em fim de vida são reutilizados, remanufaturados e reciclados. Cada vez mais, as empresas estão aplicando soluções inovadoras, inclusive por meio da “Internet das Coisas” (IoT), computação em nuvem, miniaturização e impressão 3D que permitirão maior interoperabilidade, processos industriais flexíveis e manufatura autônoma e inteligente.

Veja exemplos de economia circular

Com base no estudo “Uma Economia Circular no Brasil: Uma Abordagem Exploratória Inicial”, produzido com base na expertise coletiva dos membros da rede CE100 Brasil e da equipe de apoio da Ellen MacArthur Foundation, conheça três exemplos de atividades de economia circular já existentes no Brasil em setores importantes para a economia brasileira: agricultura e ativos da biodiversidade, edifícios e construção e equipamentos  eletroeletrônicos. 

Agricultura e ativos da biodiversidade

NATIVE (GRUPO BALBO)

O Grupo Balbo é pioneiro na produção regenerativa em larga escala de cana de açúcar no Brasil. Sob o nome Native, criou uma forte marca de açúcar orgânico que é atualmente a maior produtora e varejista global de açúcar orgânico. Em 2015 a Native plantou cana de açúcar orgânica em 22.000 hectares de terra e lucrou US $10 milhões. 

Sua abordagem inclui:

• Eliminação da prática de queimar partes não utilizadas da cana-de-açúcar

anterior à colheita;

• Automação de práticas que exigiam trabalho manual pesado, isso permitiu a realocação dos trabalhadores a tarefas mais qualificadas;

• Uso de plantio direto para reincorporar à estrutura física do solo volumes

significativos de matéria orgânica que a cana-de-açúcar produz;

• Adoção de controle biológico de pestes e eliminação do uso de pesticidas;

• Aplicação de um planejamento detalhado da paisagem para analisar o

aproveitamento da terra e identificar onde “ilhas” ou “corredores” de

biodiversidade devem ser preservados;

• Uso de resíduos líquidos de empresas do agronegócio (como moinhos de

açúcar) localizadas nas imediações como fertilizantes;

• Adoção de práticas para dar suporte à adubação verde e rotação de culturas.

Setor de edifícios e construção

PRECON ENGENHARIA

A Precon Engenharia é uma empresa brasileira que fornece pré-fabricados de concreto e, em 2010, lançou a Solução Habitacional Precon. Trata-se da primeira iniciativa habitacional no Brasil utilizando processos industriais modulares inspirados no setor automotivo. 

O método de construção, patenteado, comprovou sua eficácia na redução de resíduos, melhora das condições de trabalho e redução dos custos para o Grupo Precon. A abordagem foi aprovada pelo Ministério das Cidades para uso no Brasil inteiro. O impacto ao adotar e otimizar uma técnica de construção modular, a Solução Habitacional Precon levou a:

• Uma redução de resíduos de 85% em relação à média do setor de construção

brasileiro;

• Uma redução de 50% no tempo de construção;

• Uma redução de 50% nos custos.

Ao aplicar um processo construção e operação logística modular, a Precon também

conseguiu reduzir seu uso e seus estoques de materiais.

Equipamentos eletroeletrônicos (EEE)

RECICLADORA URBANA

A Recicladora Urbana oferece a empresas e organizações um serviço certificado para produtos de telecomunicações e TI em fim de vida útil, em conformidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos brasileira. 

Criada em 2012, a Recicladora Urbana é uma pequena empresa com foco na gestão de resíduos eletroeletrônicos no mercado B2B. Com base em um modelo de negócio de economia circular sensível a questões sociais e ambientais, a empresa progrediu com a evolução de sua experiência, partindo da revenda de partes resultantes da desmontagem dos equipamentos para a sua remanufatura, e a reforma de produtos, recolocando-os no mercado. 

A abordagem da Recicladora Urbana é atuar no mercado B2B, ajudando ONGs, pequenas empresas e pessoas físicas a descartar equipamentos eletrônicos indesejados. A empresa tem como objetivo maximizar o valor extraído de todos os itens coletados oferecendo serviço de recuperação, reparo e venda de peças usadas e remanufaturadas,  equipamentos reformados a clientes através de vendas online em sites de terceiros. 

Também oferece serviço certificado para aposentadoria segura de ativos eletrônicos e desmontagem para reciclagem, oferecendo aos clientes conformidade com regulamentos relevantes sobre reparos, proteção de dados e o meio ambiente.

A empresa estabelece contratos com clientes para recolher seu equipamento de TI indesejado. Após a coleta, remove os dados do equipamento em conformidade com a legislação brasileira e desmonta os itens para reforma ou reciclagem. 

A Recicladora Urbana também destina itens para doação a projetos de inclusão social através de uma parceria com o Centro de Inclusão Digital (CDI). O impacto do projeto é a remanufatura de equipamentos de TI.  

A tendência da economia circular ainda tem um longo caminho a percorrer. Se queremos um futuro sustentável, é necessária uma mudança real em todas as áreas, bem como a criação de sistemas que nos orientem de forma realista para a economia circular. Você já conhece as 3 letras que estão mudando o mercado de investimentos? Leia aqui

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